Explore
Also Available in:

Tentativas desesperadas para descobrir “o esquivo processo da evolução”

Uma análise de The Altenberg 16: An Exposé of the Evolution Industry de Suzan Mazur
North Atlantic Books, Berkely, CA, 2010

Walter J. ReMine

Sendo este livro escrito por uma evolucionista, os estudiosos da criação vão adorá-lo em particular. The Altenberg 16 analisa a rivalidade atualmente existente na ciência em torno das tentativas para descobrir “o esquivo processo da evolução”. O seu tema principal é o simpósio, só por convite, realizado em Altenberg, na Áustria, em julho de 2008, no qual estiveram presentes 16 cientistas evolucionistas, chamados os 16 de Altenberg (figura 1).

“[E]mbora os 16 de Altenberg tenham raízes na teoria neodarwinista, reconhecem a necessidade de desafiar a Síntese Moderna prevalecente, porque há demasiadas coisas que ela não explica [ênfase acrescentada]” (p. vii).

“Os 16 de Altenberg … reconhecem que a teoria da evolução que a maioria dos biólogos praticantes aceita e que é atualmente ensinada nas salas de aula, é inadequada para explicar a nossa existência [ênfase acrescentada]” (p. 19).

“Uma onda de cientistas questiona atualmente o papel da seleção natural, embora poucos o admitam publicamente” (p. 20).

“A ciência evolucionista tanto tem a ver com a atitude, a técnica de venda, a obstrução e a intimação que a acompanham, como com a verdadeira teoria científica. É um discurso social envolvendo hipóteses de complexidade assombrosa, em que cientistas, beneficiários das maiores bolsas concedidas a intelectuais, assumem o poder de políticos ao mesmo tempo que atiram com tartes e chamam nomes ao estilo de Animal House: ‘desajeitado’, ‘ressaca marxista demente’, ‘criacionista secular’, ‘filósofo’ (um cientista que já não pode receber mais bolsas), ‘charlatão’, ‘débil mental’ …

“Resumindo, é uma procura moderna do Santo Graal, mas com poucos cavaleiros. Numa altura em que se pede visão científica, a pesquisa científica foi sequestrada por uma indústria de ganância, com livros sobre a evolução promovidos como banha da cobra num carnaval.

“Talvez o espetáculo mais flagrante de desonestidade comercial seja a celebração, este ano, de A Origem das Espécies de Charles Darwin — a chamada teoria da evolução por seleção natural, isto é, a sobrevivência dos mais aptos, uma marca que nos foi impingida há 150 anos.

“Os cientistas concordam que pode haver seleção natural. Mas a comunidade científica também sabe que a seleção natural pouco tem a ver com as mudanças a longo prazo nas populações [enfâse acrescentada, elipse no original]” (p. v).

Boa reportagem

O livro apresenta imensas afirmações que os estudiosos da criação vão aplaudir. Por esse motivo, esperava que a autora, Suzan Mazur, as contrabalançasse, apresentando a condenação habitual e obrigatória dos criacionistas ou o aviso habitual sério (mas vazio) de que os “criacionistas não vão encontrar aqui nada de útil”. Fiquei agradavelmente surpreendido ao constatar que não constavam da sua prosa. Embora Mazur seja uma evolucionista, é sem dúvida uma repórter séria, empenhada em realizar o trabalho de repórter como deve ser, excluindo as suas próprias opiniões. Todo o livro é uma reportagem cuidadosa. Ela faz perguntas incisivas a muitos cientistas evolucionistas e apresenta longas transcrições das suas respostas, juntamente com biografias e observações sobre o seu aspeto, os seus modos, hábitos e passatempos. É pouco provável que uma repórter criacionista conseguisse que estes mesmos evolucionistas se abrissem tanto.

A seleção natural é insuficiente

O livro reconhece abertamente a insuficiência da explicação da evolução através da seleção natural (isto é, mutação e recombinação acrescidas de várias formas de seleção) — e documenta este ponto com afirmações de importantes cientistas evolucionistas.

“Debatemo-nos com a sensação crescente … de que simplesmente não possuímos as ferramentas teóricas e analíticas necessárias para fazer sentido da surpreendente diversidade e complexidade dos organismos vivos” (retirado do convite para a conferência de Altenberg, p. 31).

“Basicamente, não acho que alguém saiba como funciona a evolução [enfâse acrescentada]” (Jerry Fodor, p. 34).

“Oh, claro que a seleção natural foi demonstrada … o que é interessante, contudo, é que raramente, se é que alguma vez, foi demonstrado que tenha algo a ver com a evolução no sentido das mudanças a longo prazo nas populações. … Resumindo, podemos ver que o significado da teoria darwinista da evolução é apenas um capricho inexplicável do princípio ao fim. O que evolui é como “o que aconteceu é o que acontece” [elipse no original]” (Stanley Salthe, p. 21).

Figure 1. The Konrad Lorenz Institute for Evolution and Cognition Research, where ‘The Altenberg 16’ evolution summit took place.
Figura 1. O Konrad Lorenz Institute for Evolution and Cognition Research, onde se realizou a cimeira da evolução “The Altenberg 16”.

“Há pessoas que clamam como se nós soubéssemos a resposta. Nós não sabemos a resposta” (Stuart Kauffman, p. 54).

“O darwinismo e a síntese neodarwinista, que limparam o pó pela última vez há 70 anos, na realidade estorvam a descoberta do mecanismo da evolução” (António Lima-de-Faria, p. 83).

“Se acho que a seleção natural deve ser relegada para um papel de menor significado na discussão da evolução? Sim, acho” (Scott Gilbert, p. 221).

“Ela [Lynn Margulis] não vê na seleção natural ‘nem como a fonte de novidade que pode ser herdada nem como o processo evolutivo completo’ e pronunciou o neodarwinismo ‘morto’, uma vez que não existem provas adequadas na literatura de que as mutações aleatórias resultem em novas espécies” (Mazur, p. 257).

“Nessa reunião, [Francisco] Ayala concordou comigo quando afirmei que este neodarwinismo doutrinário está morto. Ele era praticante do neodarwinismo, mas os avanços ao nível da genética molecular, da evolução, da ecologia, da bioquímica e outras notícias tinham-no levado a concordar que o neodarwinismo está agora morto” (Lynn Margulis, p. 278).

“O que acontece, porém, é que um organismo pode ser modificado e refinado por seleção natural, mas não foi dessa forma que surgiram novas espécies e novas classes e novos filos” (Massimo Piattelli-Palmarini, p. 314).

Por que motivo a seleção natural é insuficiente?

O livro identifica áreas essenciais em que a seleção natural não é uma explicação suficiente, mas discute-as apenas de uma forma breve e superficial. Mazur podia ter feito melhor a explicar esses problemas que estão a enlouquecer os cientistas evolucionistas. Irei alargar bastante a discussão aqui.

Uma área é obviamente a origem da vida, uma vez que a seleção natural só pode começar a funcionar depois de a vida ter começado. Contudo, a ciência moderna revelou uma complexidade assombrosa das formas de vida auto-reprodutíveis mais simples conhecidas. Para explicar estas dificuldades, os evolucionistas reivindicam a existência, na Terra, de inúmeras formas de vida diferentes de todas as formas de vida conhecidas. Não têm provas disso; tentam, portanto, fazer com que a sua visão do mundo não seja falsificada, sugerindo explicações que não podem ser testadas. Além disso, os evolucionistas propõem agora processos desconhecidos de “automontagem” e “auto-organização” (e termos associados, tais como “plasticidade”).

Outra área essencial é a origem de taxa superiores, especialmente a origem de filos e classes. De acordo com os próprios evolucionistas, a origem de todos os filos animais ocorreu num (ou muito próximo de um) breve instante geológico, conhecido como a Explosão Câmbrica. Só isso é um grande problema.

Mas piora. Stephen Jay Gould observou que a sequência dos fósseis mostra que as conceções biológicas mais díspares (mais diferentes) tendem a mostrar-se primeiro! Seguidas das conceções ligeiramente menos díspares. Seguidas das conceções ainda menos diferentes. Até que, por fim, os últimos pedaços ligeiros de diversidade biológica entre espécies são preenchidos mesmo no fim do processo. A tendência geral na sequência dos fósseis é: os diversos filos aparecem primeiro, mais tarde são preenchidas diversas classes lineanas e, ainda mais tarde, são preenchidas diversas ordens lineanas … e assim por diante. Gould chamou a este padrão “a disparidade precede a diversidade”. E os evolucionistas não podem pôr as culpas desta sequência num “registo fóssil incompleto”, como muitas vezes tentam fazer.

Isso contradiz as expetativas do darwinismo (e neodarwinismo), que espera mudanças lentas que, ao longo do tempo, se irão gradualmente acumular em grandes diferenças. Em resumo, o darwinismo espera que as conceções mais díspares se mostrem por último, não em primeiro lugar. Isso é contrariado pelo registo fóssil. (Para ser sincero, para a maioria das pessoas não envolvidas emocionalmente no assunto, isto falsifica o darwinismo.) Algo está errado no cerne da teoria darwinista.

Mas piora ainda mais. Descobertas recentes na genética estão a contribuir com outro novo e interessante desafio para o problema. Os biólogos do desenvolvimento observaram um pequeno conjunto de genes que coordenam o desenvolvimento de planos estruturais do organismo — e estão presentes em todo o reino multicelular, nos diversos filos e classes. Os evolucionistas chamam-lhe a “caixa de ferramentas genéticas de desenvolvimento”. De acordo com o pensamento evolucionista, esta caixa de ferramentas complexa tem de ter tido origem num antepassado comum a todos os filos. Mas esse antepassado comum tem de ter existido antes do primeiro aparecimento destes filos — por outras palavras, antes da Explosão Câmbrica. O antepassado comum (cuja identidade é ainda desconhecida) tem de ter existido no Pré-câmbrico — antes da origem da vida multicelular. Em resumo, os genes que controlam as estruturas corporais dos organismos tinham de ter tido origem quando não havia corpos. Os genes que controlam o desenvolvimento embrionário tinham de ter tido origem quando não havia embriões.

“Na altura em que as modernas estruturas corporais dos animais apareceram pela primeira vez [há meio milhar de milhão de anos], quase todos os genes que são utilizados nos organismos modernos para produzir embriões já lá estavam. Tinham evoluído no mundo unicelular mas não estavam a fazer embriogénese [chavetas de Mazur]” (Stuart Newman, p. 52).

A seleção natural não pode resolver esse problema: não pode “olhar para a frente” e criar uma caixa de ferramentas embrionárias para uso futuro. Não pode desenvolver as “ferramentas” para fazer organismos multicelulares quando não existem organismos multicelulares. A seleção natural é insuficiente, portanto uma vez mais os evolucionistas estão a recorrer a mecanismos de automontagem e auto-organização.

O artigo de Stuart Newman, que “serviu de tema principal do simpósio de Altenberg” (Mazur, p. 12), reivindica que a totalidade dos cerca de 35 filos animais auto-organizaram-se fisicamente na altura da Explosão Câmbrica e a seleção seguiu-se mais tarde como um ‘estabilizador’ das novidades auto-organizadas.

“Olhem, quando Sherman realça que o ouriço-do-mar [que não tem olhos] tem, expressos internamente, os genes dos olhos e dos anticorpos (genes que são bem conhecidos e totalmente ativos em espécies posteriores), como é que podemos não concordar com ele que o neodarwinismo canónico não tem qualquer explicação para estes factos?” (Massimo Piattelli-Palmarini, p. 321).

Este problema, da genética e do registo fóssil, é cientificamente sólido e firme — mas a solução dos evolucionistas não é. No entanto Mazur inverte o tratamento correto apresentando uma descrição superficial do problema. Poucos dos seus leitores compreenderão o que é que leva os cientistas evolucionistas a tais extremos desesperados.

Testabilidade e demonstrações experimentais

As ideias evolucionistas da automontagem e auto-organização têm duas falhas. Em primeiro lugar, a demonstração experimental é insuficiente.

A “auto-organização é certamente um componente importante, mas muito pouco foi descoberto para além de generalidades. A quantidade imensa de pormenores complexos que os geneticistas e desenvolvimentalistas têm vindo a descobrir ao longo dos anos faz parecerem pequenas as metáforas gerais como a auto-evolução e mesmo a auto-organização [enfâse acrescentada]” (Massimo Piattelli-Palmarini, p. 322).

Além disso, estas explicações evolucionistas carecem de testabilidade científica ou arriscam-se seriamente a vir a ser potencialmente falsificadas por via empírica. Ninguém parece saber como testá-las.

“Penso que a auto-organização faz parte de uma alternativa à seleção natural. Vou tentar enquadrá-la para vocês. Trata-se, efetivamente, de um enorme debate. A verdade é que não sabemos como pensar sobre ela” (Stuart Kauffman, p. 291).

Devido a esta falha científica dupla, estes mecanismos podem ser simpaticamente designados de hipérbole ou pura e simplesmente de propaganda exagerada — não ciência. Não satisfazem os requisitos da ciência que os evolucionistas subscreveram em todos os seus processos judiciais. Mas esta deficiência não é discutida no livro.

Tal como seria de prever para um livro evolucionista deste tipo, não sugere nenhuma necessidade de testabilidade das explicações evolucionistas, na realidade mal se refere à testabilidade. No entanto, os evolucionistas por tudo o que é sítio exigem firmemente a testabilidade das teorias da criação. Este livro é outro exemplo dos dois critérios dos evolucionistas: um critério (testabilidade) aplicado à teoria da criação; e um critério muito inferior aplicado à teoria evolucionista.

Epistemologia evolucionista

Eis a forma como os evolucionistas chegam àquilo que “conhecem” sobre as origens:

  1. consideram a evolução como um “facto” inabalável e
  2. a ciência apresenta provas convincentes contra muitas explicações evolutivas.

Essas são consideradas em conjunto como provas a favor das restantes explicações evolutivas — independentemente de quão inconsistentes, não corroboradas ou não científicas elas sejam. Este método de conhecimento está profundamente imbuído na mentalidade evolucionista. Os evolucionistas são constitucionalmente incapazes de “ver” provas contra a evolução, mesmo quando se apresentam escancaradas à sua frente. The Altenberg 16 dá-nos um exemplo. Há muitos exemplos.

Existe a chamada “convergência”, que é superabundante na vida. Por exemplo, os evolucionistas reivindicam que a visão surgiu mais de quarenta vezes separadas e que um olho complexo como o nosso — com um cristalino e uma retina — teve origem pelo menos cinco vezes de forma independente, uma vez que se encontra separadamente nos vertebrados, cefalópodes (polvo/lula), vermes anelídeos, alforrecas e numa aranha (figura 2). Tais origens não foram nem de longe demonstradas experimentalmente e embora esses desenhos anatómicos sejam complexos, não é possível explicar a sua semelhança:

  • por descendência comum ou
  • por atavismo (isto é, a mascaramento e posterior desmascaramento de características genéticas) ou
  • por transposição lateral de características de uma linhagem para outra (como, por exemplo, por transferência lateral de genes ou endossimbiose).
Foto cortesia de Wikipédia Figure 2. Jumping siper eyes. Evolutionists claim that the complex eye—with a lens and retina—originated at least five separate times, as 
it is found separately in vertebrates, cephalopods, annelid worms, jellyfish, and spiders.
Figura 2. Olhos de aranha saltadora. Os evolucionistas reivindicam que o olho complexo — com cristalino e retina — teve origem pelo menos cinco vezes de forma independente, uma vez que se encontra separadamente nos vertebrados, cefalópodes, vermes anelídeos, alforrecas e aranhas.

Essas são simplesmente as três versões de herança simples que os evolucionistas empregam ativamente nos seus contos. Mas todas estas três explicações simples são eliminadas pelos dados. (Nota: Isto era necessário para satisfazer os objetivos previstos pela Teoria da Mensagem.1)

Aos evolucionistas resta-lhes a sua “explicação” menos fácil e menos plausível da situação — a reivindicação descarada e não científica da origem independente de complexidades biológicas semelhantes. Em resumo, estas são provas anti-evolutivas fortes. Considerando a incrível flexibilidade dos contos evolucionistas, as ”convergências” são do mais anti-evolutivo que pode existir.

Ironicamente, quanto mais profundas são as provas anti-evolutivas, mais o evolucionista as vê como provas a favor do poder incrível de um mecanismo evolutivo! Todos os evolucionistas interpretam a convergência como prova a favor do incrível poder de seleção natural.

Os evolucionistas reconhecem instintivamente a convergência como uma prova anti­evolucionista, porque tendem a evitá-la em eventos em que a evolução não é assumida como um facto, como, por exemplo, em debates com criacionistas. O método evolucionista consiste em pôr de lado as provas anti-evolucionistas durante tempo suficiente para concluir que a evolução é um “facto” e depois reinterpretá-las mais tarde como provas a favor de um mecanismo evolutivo.

Simon Conway Morris dedica à convergência uma discussão do tamanho de um livro.2 Documenta inúmeros exemplos de convergência espantosa e, considerada em conjunto com a sua hipótese da evolução como um “facto”, é forçado a concluir que a convergência é inevitável e que a vida extraterrestre, se produz formas de vida superiores, provavelmente produziria humanoides bilaterais com cérebros grandes, muito semelhantes a nós! A seleção natural é assim tão poderosa! A convergência é assim tão inevitável! Quais são as provas de que a convergência é inevitável? Resposta: o facto de existir, abundantemente — não são necessárias outras provas. Para os evolucionistas, não se exige uma demonstração experimental suficiente da evolução, nem a testabilidade científica.

Outro exemplo. Os darwinistas clássicos procuraram identificar os antepassados e utilizaram-nos como a sua prevista prova central da evolução. (Se tivessem sido bem sucedidos, eu seria hoje um evolucionista.) De diversas formas, criaram ilusões, e o seu programa de investigação demorou 120 anos a ruir. Falharam porque os antepassados e as linhagens claramente definidos estão sistematicamente ausentes. Por conseguinte, com início em meados da década de 1970, os evolucionistas procuraram reformular a sua teoria (e as suas previsões e as chamadas “provas”) de forma a não terem necessidade de identificar os antepassados. A metodologia cladística adquiriu então proeminência e nunca identifica os verdadeiros antepassados. De forma idêntica, a teoria dos equilíbrios pontuados adquiriu importância em grande parte porque tenta explicar este falhanço central do darwinismo.

Os evolucionistas começaram a reconhecer três modelos anti-evolutivos profundos no registo fóssil:

  1. ausência de mudança — estagnação ou “estase” — em toda a existência de espécies fósseis
  2. existência sistemática de grandes lacunas morfológicas entre formas de vida (isto é, ausência sistemática de gradualismo), a que Stephen Jay Gould se referiu com a famosa frase “o segredo de estado da paleontologia’)
  3. ausências sistemáticas de antepassados e linhagens claramente definidos.

Os evolucionistas utilizaram estas provas anti-evolutivas, consideradas em conjunto com o “facto” da evolução, como provas a favor de uma nova teoria do mecanismo evolutivo. Se nos fechássemos numa sala com pouco mais do que isso, eventualmente sairíamos de lá com a teoria deles, o equilíbrio pontuado, com todos os seus pormenores essenciais.

Foto cortesia de Wikipédia Figure 3. Karl von Baer (1792–1876). von Baer’s laws of embryology explain the ‘anti-evolutionary’ patterns of embryo 
development, which proceed from most-generalized characters, to less-generalized, and finally to their most specialized characters, as embryos grow.
Figura 3. Karl von Baer (1792–1876). As leis da embriologia de von Baer explicam os modelos “anti-evolutivos” de desenvolvimento embrionário, que passam de caracteres mais generalizados para menos generalizados e, por último, para os seus caracteres mais especializados, à medida que os embriões crescem.

Os pontos 1 e 2 foram utilizados como provas a favor da “evolução rápida” na origem de novas espécies. Mas embora a maioria das pessoas o desconheça, o ponto 3 confere à teoria uma grande parte do seu caráter distinto. De acordo com a teoria, a evolução ocorre predominantemente em eventos de ramificação (chamados especiação), em surtos rápidos e súbitos, em direções aleatórias (em grande parte não adaptativas) — misturando assim qualquer aparecimento persistente de antepassados e linhagens claramente definidos. A teoria foi especificamente concebida para misturar linhagens e tornar “indecifrável” a identificação dos antepassados. Os evolucionistas adotam esta teoria, apesar de lhe faltar demonstração experimental e testabilidade científica. A teoria está agora bem protegida, porque, ironicamente, a única forma de a refutar seria a apresentação de provas convincentes a favor da evolução.

Como outro exemplo, tomemos as leis da embriologia de von Baer (figura 3), que continuam a ser fundamentais para a nossa melhor descrição dos modelos de desenvolvimento embrionário. Sucede que esses modelos são provas anti-evolutivas, especialmente a tendência para os embriões cedo apresentarem os seus caracteres mais generalizados e continuarem depois em sequência a apresentar caracteres menos generalizados e, eventualmente, a apresentar os seus caracteres mais especializados. De uma forma geral, pode dizer-se que um dado embrião cedo apresenta as características do seu filo, seguidas das características da sua classe lineana, depois a sua ordem lineana, depois a família e assim por diante. Esta sequência embriológica — de generalizada para especializada — é bastante embaraçosa para os evolucionistas explicarem. Lembra-se de alguma vez um evolucionista tentar explicar as leis de von Baer? O problema é mesmo difícil; não consigo encontrar nenhum exemplo concreto de os evolucionistas alguma vez tentarem explicá-las. Em vez disso, a sua resposta foi dada, implicitamente, com a Teoria da Recapitulação. A teoria pode ser determinada se nos fecharmos numa sala com pouco mais do que as leis de von Baer, juntamente com o “facto” da descendência comum universal. Sairíamos da sala com a Teoria da Recapitulação, em todos os seus pormenores essenciais.

Mas a Teoria da Recapitulação exige mecanismos altamente peculiares, relativamente aos quais não existem demonstrações experimentais sérias. Mesmo assim, os evolucionistas promoveram amplamente esses mecanismos de recapitulação como reais e impingiram-nos aos alunos das escolas, mesmo muitas décadas depois de os investigadores evolucionistas saberem, à porta fechada, que eram falsos. Embora se pensasse que a recapitulação tinha sido finalmente expungida por Stephen Jay Gould (no seu livro Ontogeny and Phylogeny, de 1977), ainda é muito defendida atualmente — porque os evolucionistas não têm nenhuma resposta melhor. A prova fundamental a favor dos “mecanismos de recapitulação” é a prova anti-evolutiva da embriologia, considerada em conjunto com o “facto” da evolução.

Para outro exemplo, olhemos para a origem da vida. Consideremos o universo de ideias e subtraiamos todas as que não consideram a origem naturalista da vida como um facto. Em seguida, subtraiamos todas as ideias que foram cientificamente refutadas. As restantes são aquilo que os livros de texto ensinam sobre a origem da vida — independentemente de quão inconsistentes, não-demonstráveis ou não-testáveis sejam. Aqui os livros de texto omitem a ciência real. O que efetivamente sabemos — cientificamente — são as muitas formas pelas quais a origem da vida não aconteceu de uma forma naturalista. Na questão da origem da vida, quem está do lado da ciência são, agora, os criacionistas.

Mas para os evolucionistas, todas as provas corroboram um mecanismo evolutivo. Não pode ser de outra forma. Simplesmente tem de ser assim, porque a evolução é um “facto”.

O encobrimento de financiamentos

Lynn Margulis constatou que o financiamento governamental para a investigação evolucionista chega de uma forma desconexa proveniente de diversas agências e departamentos governamentais perfeitamente separados, em vez de uma única entidade coerente. Por isso ela, juntamente com outros evolucionistas, escreveu uma carta à National Science Foundation [NSF] pressionando para que fosse criada uma entidade única, especialmente para financiar a investigação da evolução.

“Falámos sobre formas de exercer pressão sobre a National Science Foundation tendo em vista a criação de uma secção de evolução. … . Reduzir-se-ia assim a redundância e poupar-se-ia dinheiro às agências de financiamento. … . Seja como for, deduzi que os cientistas-burocratas da NSF tinham posições diferentes quanto à nossa carta. A mulher [representante da NSF] encarregada de nos responder escreveu a dizer que havia tantos cidadãos americanos que se opunham à evolução que se a NSF colocasse a química, a geologia, etc. numa única divisão de evolução, seria como deitarmos a cabeça de fora para sermos decapitados. Uma proposta deste tipo, independentemente da sua validade intelectual, não teria pernas para andar! Afirmou que a NSF achava que iria reforçar a ciência da evolução evitando a palavra ‘evolução’ e não através da centralização das atividades de investigação” (Lynn Margulis, pp. 263–264).

Isto mostra de que forma um governo centralizado pode atribuir novos nomes às coisas e dividir um grande fluxo de financiamento de diversas maneiras confusas, de forma a obscurecer intencionalmente para onde vai o dinheiro dos contribuintes — e intencionalmente contornar a vontade das pessoas. Os evolucionistas utilizam esta manobra e Mazur não refere nenhuma objeção à mesma. Os evolucionistas sentem-se justificados em esconderem intencionalmente informações essenciais do público. Isto é consistente com o seu sistema de crenças de que os princípios morais são apenas um produto da evolução.

Censura

Mazur chama a atenção para a censura existente contra as ideias não darwinistas. Ela opõe-se a essa censura e com razão. Os criacionistas sofrem uma censura muito mais pesada contra as suas ideias. Contudo, as explicações dela para a censura são praticamente idênticas àquilo que dizem os criacionistas.

“Os meios de comunicação comerciais são ignorantes e bloqueiam a cobertura de histórias sobre a não centralidade do gene porque os seus dólares de publicidade na área da ciência provêm da indústria Darwinista, centrada nos genes. … . Ao mesmo tempo, a indústria Darwinista também está feita com o governo, mesmo que os líderes políticos continuem a não ter a menor ideia sobre o que é a evolução. Assim, o público não sabe que os seus dólares estão a ser dissipados no financiamento de ciência barata e medíocre ou que os seus filhos estão a ser intelectualmente esfomeados em resultado de textos desatualizados e professores incultos” (Mazur, p. ix).

“Os principais meios de comunicação não conseguiram de todo cobrir a história da não centralidade do gene. … em grande medida, isto tem a ver com a publicidade da indústria baseada em Darwin, editores que não fazem o trabalho de casa e outros que só tentam agarrar-se aos empregos” (Mazur, p. 104).

“A ideia é que não podemos continuar a fingir que a evolução é só sobre a seleção natural de Darwin mesmo que isso seja o que a maioria dos biólogos diz e que os livros de texto o repitam” (Mazur, p. 105).

“O consenso do bloco da evolução [isto é, os blogs de ciência] ainda parece ser que se uma ideia não se insere no darwinismo e no neodarwinismo — é mantê-la de fora” (Mazur, p. viii).

“A não ser que o discurso em torno da evolução seja aberto a perspetivas científicas para além do darwinismo, a educação de gerações futuras corre o risco de ser sacrificada para benefício de uma teoria moribunda” (Stuart Newman, p. 104).

“Um motivo por que foram feitos tão poucos progressos nesta área é que conceitos científicos perfeitamente válidos que empregam mecanismos evolutivos não adaptativos raramente são considerados devido à hegemonia do modelo neodarwinista” (Stuart Newman, p. 131).

Lynn Margulis revela de que forma a visão do mundo estabelecida (evolução) impõe a unidade nas suas fileiras: “[A]s pessoas são sempre mais leais ao seu grupo tribal do que a qualquer noção abstrata de “verdade” — especialmente os cientistas. Se assim não for, não têm emprego. É suicídio profissional contradizer continuamente os nossos professores ou líderes sociais” (Lynn Margulis, p. 275).

Autocensura

O desinteresse dos principais meios de comunicação é uma coisa, mas Mazur está especialmente preocupada com a autocensura por parte dos próprios líderes evolucionistas. Por que motivo mantêm o público americano às escuras? Por que motivo, interroga-se Mazur, as duas principais conferências do ano sobre evolução “foram realizadas fora dos Estados Unidos”? Porquê em línguas estrangeiras? Mostra-se alarmada que “o mundo de língua inglesa possa não estar a receber a mensagem” (p. 217). Por que motivo os líderes evolucionistas não estão a divulgar a mensagem? Mazur volta repetidamente a este puzzle.

“Perguntei-lhe [a Eugenie Scott, do National Center for Science Education — NCSE] o que ela pensava sobre auto-organização e por que motivo a auto-organização não estava representada nos livros que o NCSE promovia? Ela respondeu que as pessoas confundem auto-organização com conceção inteligente e que é por isso que o NCSE não tem dado apoio” (Mazur, p. 101).

Mais precisamente, o NCSE “não recomenda livros de texto para as escolas se esses textos incluírem uma discussão da auto-organização” (p. 254).

A afirmação de Eugenie Scott é um disparate. Independentemente daquilo que as novas teorias evolucionistas possam ser, ninguém vai confundi-las com conceção inteligente. Ela está a tentar culpar os seus oponentes por algo no seio do campo evolucionista. Explicarei as maldades dela mais tarde.

Mazur pergunta depois a Stuart Newman: “A que é que atribui a relutância de organizações como o National Center for Science Education em distribuir literatura sobre auto-organização?” (p. 131). Ele aproxima-se um pouco mais da verdade.

“Acho que há um desafio que a auto-organização e a plasticidade em geral representam para a teoria darwinista … . A meu ver, a auto-organização representa um desafio para a síntese darwinista, isto é, a síntese moderna e o entendimento da teoria evolucionista. … [A]s pessoas preocupam-se que se abrirem a porta a mecanismos não darwinistas, vão permitir que os criacionistas também se esgueirem por ela [ênfase adicionada]” (Stuart Newman, pp. 131–132).

Os evolucionistas estão outra vez a culpar os criacionistas como um fator que mantém os evolucionistas silenciosos.

“Acho que abandonar o darwinismo (ou relegá-lo explicitamente para onde pertence, no refinamento e aperfeiçoamento de formas existentes) soa anticientífico. Eles [os muitos contribuintes para as teorias evolucionistas não darwinistas] receiam que os detentores da conceção inteligente e os criacionistas (pessoas que eu detesto tanto como eles) regozijem e se refiram a eles como estando do seu lado. Receiam mesmo isso, portanto são prudentes, alguns de boa fé, alguns por receio calculado de serem expulsos da comunidade científica” (Massimo Piattelli-Palmarini, p. 317).

Segundo escreve Mazur: “Este é um grande debate, que os meios de comunicação não estão a cobrir. Atingiu um crescendo e muitas pessoas dizem que está em curso uma mudança profunda” (p. 252). Entretanto, praticamente na mesma altura, a National Academy of Sciences publicou o seu livro, Science, Evolution, and Creationism, como uma denúncia da conceção inteligente e uma defesa do ensino exclusivo da evolução nas escolas públicas.3 Por outras palavras, o livro da NAS omitiu o crescendo de controvérsia e pintou uma imagem falsa de unidade sobre a teoria evolucionista e as origens. Mazur rebaixa-o como “um livro muito geral” e interroga sarcasticamente Niles Eldredge sobre a sua “simplicidade”. Ele responde:

“Não. O que quero dizer é que quando se está a lutar contra conselhos diretivos de escolas que querem adotar a Conceção Inteligente, é preciso escrever em termos muito básicos. É um problema político. E há sempre um problema, como sabe … em comunicar ciência ao público e em ser claro sobre a mesma [elipse de Mazur]” (Niles Eldredge, p. 329).

Eldredge adota a justificação habitual: ao tratar com o público, a simplificação é necessária — desde que a simplificação favoreça a evolução. Se a simplificação desfavorecesse a evolução, os evolucionistas em breve começariam a falar e a denunciá-la em voz alta.

(Nota: Ajudaria se os evolucionistas tratassem das origens da mesma forma que querem que os seus oponentes o façam. A “simplificação” habitual a nosso próprio favor pode ser uma forma de desonestidade.)

Mazur objeta que o livro da NAS não incluiu nenhumas “formas adicionais” a considerar, tais como a automontagem e a auto-organização. E Eldredge responde:

“Não, porque é tudo considerado especulativo e na vanguarda e coisas assim … . O que eles estão a tentar fazer [no livro da NAS] é dizer onde nos encontramos agora, onde estamos confortáveis, onde podemos efetivamente dizer que esta é a forma como as pessoas realmente pensam na sua maioria” (Niles Eldredge, pp. 329–330).

Eldredge sente-se confortável a omitir as novas explicações evolutivas, porque essas explicações são “especulativas”. Mas os problemas não são especulativos; são cientificamente sólidos e Eldredge/Mazur não objetaram à sua omissão do livro da NAS.

A autocensura pode agora ser explicada. Os novos mecanismos evolutivos de automontagem e auto-organização resultam das tentativas dos evolucionistas para responder a problemas esmagadores que são cientificamente sólidos e simples de descrever. Mas as “respostas” evolucionistas são inconsistentes, mal estudadas, não estão demonstradas e não podem ser testadas — não são científicas.

Isso explica por que motivo os evolucionistas preferem eventos em que a evolução é considerada um “facto” — digamos, nas suas conferências apenas por convite. Isso explica por que motivo os evolucionistas evitam a “auto-organização” para o grande público, como o livro da NAS. Isso explica por que razão Eugenie Scott e o NCSE se opõem ativamente à inclusão da “auto-organização” em livros de texto escolares. O NCSE é a principal organização americana anti-criação e não quer que apareçam perguntas feias, como por exemplo: “Quais são as provas da auto-organização?” Porque a resposta seria: “As provas a favor da ‘auto-organização’ são os problemas esmagadores que a teoria evolucionista enfrenta, considerados em conjunto com o ‘facto’ da evolução. Isto não vai parecer bem nas salas de aula.

“O silêncio é a arma mais forte. O desrespeito pelos princípios éticos da ciência está generalizado” (Lima-de-Faria, p. 91).

Suzan Mazur repara na autocensura na América e procura sinceramente as suas causas. Mas a negra verdade é que ela censurou o seu próprio livro. Como é evolucionista, escondeu dos seus leitores uma discussão sólida dos muitos problemas sérios que estão a forçar os evolucionistas a adotar soluções tão desesperadas como a automontagem e a auto-organização.4 Por mim, gostaria que ela escrevesse uma continuação em que as documentasse com o mesmo profissionalismo jornalístico (isento) com que tratou a maioria do material.

Referências

  1. ReMine, W.J., The Biotic Message: Evolution Versus Message Theory, St Paul Science, St Paul, MN, 1993; see review: Batten, D., J. Creation 11(3):292–298, 1997; creation.com/biotic. Retornar.
  2. ReMine, W.J., review of Life’s Solution: Inevitable Humans in a Lonely Universe, by Simon Conway Morris, J. Creation 20(2):29–35, 2006. Retornar.
  3. Ver refutação pormenorizada, Sarfati, J., Science, Creation and Evolutionism, creation.com/nas, 8 de Fevereiro de 2008. Retornar.
  4. Discuto estas questões em pormenor em ReMine, ref.1. Retornar .