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Dilúvio!

Por Rebecca Conolly e Russell Grigg
Tradução de A. N. Other
Revisão de Daniel Ruy Pereira

Aztec ruins
“Quando a humanidade foi coberta pelo dilúvio, tudo foi destruído, menos um homem chamado Coxcox… e uma mulher chamada Xochiquetzal, que se salvaram em um pequeno barco; tendo depois repousado em cima de uma montanha, chamada por eles Colhuacan, tiveram lá vários filhos; … todas essas crianças nasceram mudas, até que uma pomba de uma árvore alta se lhes ensinou línguas, mas estas diferiam tanto que eles não podiam se entender.” 1

Uma versão deturpada dos relatos bíblicos de Noé e Babel? Talvez. Essa história vem dos astecas do México-um dos vários contos que falam de uma inundação catastrófica, de geografias remotas e culturas diferentes.

Um manancial de lendas do dilúvio

Mesopotâmia

Tábulas descobertas no Iraque recontam os mitos da antiga Mesopotâmia. Elas falam de uma cultura que desapareceu na Suméria e de um rei chamado Gilgamesh. Ele era famoso por sua grande sabedoria e conhecimento. Gilgamesh relatou a história de um dilúvio mundial. História essa que lhe foi contada por Utnapishtim, rei de uma civilização pré-diluviana e sobrevivente da catástrofe.

Essa história conta que Ea, senhor das águas e guardião dos homens, alertou Utnapishtim sobre o dilúvio pelo qual os deuses destruiríam a humanidade. Ea mandou Utnapishtim “derrubar a sua casa e construir um barco”, para “levar no barco a semente de todas as criaturas vivas. … Cada um dos lados medindo 120 côvados, formando um quadrado.” Havia sete convéses ao todo. O dilúvio foi assustador e cheio de fúria. Utnapishtim contou que “o deus da chuva tornou a luz em trevas, quando ele esmagou a terra como um copo”. Quando a tempestade diminuiu, Utnapishtm olhou para a face da terra e havia silêncio. Toda a humanidade retornou à argila. A superfície do mar se estendia plana como um telhado… de todos os lados era a desolação das águas”. Utnapishtim soltou uma pomba, que retornou sem encontrar lugar de descanso e depois uma andorinha, com o mesmo resultado. Finalmente, um corvo foi solto, mas não retornou. O barco chegou à terra em uma montanha e Utnapishtim ofereceu uma sacrifício.”2

Índios Norte-Americanos

Os índios norte-americanos’têm várias histórias de dilúvio. Uma delas, da tribo Choctaw, de muito tempo atrás, conta que os homens se tornaram’tão corruptos que o Grande Espírito os destruiu em uma grande inundação. Apenas um homem foi salvo-um profeta cujos avisos foram ignorados, a quem o Grande Espírito ordenou a construção de uma jangada de toras de sassafrás. Depois de muitas semanas, um pequeno pássaro guiou o profeta a uma ilha, onde o Grande Espírito transformou a ave em uma bela mulher que se tornou a esposa do profeta. Seus filhos, então, repovoaram o mundo.3

Histórias de dilúvio por aborígenes australianos

Da mesma forma, há várias histórias de dilúvio contadas por aborígenes australianos. Uma delas conta como houve uma inundação que cobriu as montanhas, afogando muitos dos Nurrumbunguttias, ou homens e mulheres espirituais. Outros, incluindo Pund-jil, foram apanhados por um redemoinho no céu. Quando as águas baixaram, o mar voltou ao seu lugar e as montanhas apareceram novamente, o filho e a filha de Pund-jil voltaram para a terra e tornaram-se os primeiros dos verdadeiros homens e mulheres que vivem no mundo de hoje”.4

Antigos chineses

Os primeiros estudiosos jesuítas foram os primeiros europeus a terem acesso ao “livro de todos os conhecimentos”, chinês, dos tempos antigos. Essa coleção de 4320 volumes conta a repercussão da rebelião da humanidade contra os deuses. “A Terra foi abalada em suas fundações. O céu do norte se abaixou. Sol, Lua e estrelas mudaram seus movimentos. A Terra foi despedaçada e as águas de seu peito subiram com violência, transbordando a Terra”.5

Outra história, no folclore dos Bahnars, uma tribo primitiva de Cochin, na China, conta como os rios incharam “até que as águas atingirem o céu e todos os seres vivos morrerem, menos dois irmãos que foram salvos em uma arca enorme. Levaram consigo um par de cada tipo de animal.”6

Egito

São raros os relatos africanos sobre o dilúvio. Porém exite um, egípcio, que se refere a um antigo deus da criação, Tem, responsável “pela inundação primordial, que cobriu toda a terra e destruiu toda a humanidade, exceto aqueles que estavam no barco de Tem”.7

Peru

Os incas, no Peru, também tiveram uma tradição de dilúvio. “Eles contam que as águas subiram acima das montanhas mais altas do mundo, para que todas as pessoas e todas as coisas criadas morressem. Nenhuma coisa viva escapou, exceto um homem e uma mulher, que boiavam em uma caixa na superfície das águas, sendo assim salvos”.8

Escandinávia

As histórias das tribos teutônicas da Escandinávia são vivas e descrevem eventos aterrorizantes. O imaginário dessas lendas enfatiza o tamanho do cataclisma. Um dos contos retrata o caos do mundo quando o poderoso lobo Fenrir sacudiu-se e “fez o mundo todo tremer. O freixo Yggdrasil, [tido como o eixo da Terra], foi abalado desde suas raízes até os seus galhos mais altos. Montanhas desmoronaram ou foram partidas de cima a baixo… “. Os homens “foram expulsos de seus lares e a raça humana foi varrida da superfície da Terra. A própria Terra estava começando a perder a sua forma. Já as estrelas estavam à deriva, caindo do céu. Chamas jorraram de fissuras nas rochas; por toda parte ouvia-se o chiado do vapor. Todos os seres vivos e todas as plantas, foram eliminados. E agora, todos os rios e mares subiram e transbordaram. Por todos os lados as ondas se chocavam. Elas cobriram todas as coisas. A Terra afundou-se sob o mar.” Depois disso, lentamente, “a Terra emergiu das ondas. Montanhas subiram outra vez… Os homens também reapareceram… Guardados na própria madeira do freixo Yggdrasil, os ancestrais de uma futura raça de homens escaparam da morte.”9

Earth

Uma coerência misteriosa com o relato de Noé

Existem pelo menos 500 lendas de um dilúvio global, quase sempre havendo grande similaridade entre elas, com muitos aspectos em comum ao relato bíblico.

Ficamos apenas com algumas opções. Talvez todas essas civilizações tiveram experiências diferentes de inundação que, por acaso, tinham todas essas características em comum. No entanto, a alternativa mais razoável é que todas essa lendas tenham suas raízes na mesma experiência de um dilúvio global contada em Gênesis. (Veja, por exemplo, uma comparação entre o relato suméro e o Gênesis, no artigo “O Dilúvio de Noé e o Épico de Gilgamesh”).

Então por que atualmente os céticos rejeitam essas histórias? A Bíblia diz que as pessoas deliberadamente rejeitam o Dilúvio: “Mas eles deliberadamente se esquecem de que há muito tempo, pela palavra de Deus, existem céus e terra, esta formada da água e pela água. E pela água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído.” (2 Pedro 3:5–6)

A Bíblia também proclama que há um outro cataclisma reservado para este mundo: “O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada.” (2 Pedro 3:10).

Sempre descansamos na certeza de outro nascer do sol. Nós confiamos e dependemos do delicado equilíbrio que torna a vida em nosso planeta possível. As antigas profecias e lendas, sendo corrupções do verdadeiro relato original, nos ajudam a lembrar de nossa vulnerabilidade diante de Deus. Devemos humildemente nos ajoelhar e nos render a Seus propósitos. Pois são estes os propósitos que realmente importam.


Aborígenes australianos relatam lenda de um dilúvio mundial

Australian Aboriginals

Um dos relatos mais fascinantes, que resumimos aqui, foi encontrado por antropólogos numa remota tribo aborígene, antes de qualquer contato com missionários.

“Aconteceu que as crianças mais novas se atormentaram e maltrataram a Coruja Piscante, Dumbi. Ngadja, o Supremo, se ofendeu e sentiu profunda tristeza por ela. Então, instruiu Gajara: “Se você quiser viver, pegue seus filhos e esposas e faça uma jangada dupla. Por causa do que aconteceu a Dumbi, quero afogar a todos. Estou prestes a mandar a chuva e a inundação marítima”, disse ele. “Coloque nas jangadas alimentos que possam ser amarzenados, como gumi, banimba e ngalindaja, todos estes alimentos do chão.”

“Então Gajara amarzenou todos esses alimentos. Ele também reuniu as aves do céu, como o cuco, o visco-comedor, o pássaro do arco-íris, o pássaro de capacetes e os tentilhões, juntamente com uma fêmea de canguru. Gajara fez de seus filhos e esposa a tripulação.

“Então Ngadja enviou as nuvens de chuva para baixo, fechando o céu sobre eles. A inundação veio do norte-nordeste e as pessoas foram cercadas por águas salgadas e pelas águas da maré. Ngadja girou as águas e a Terra se abriu, engolindo todas as pessoas. Ele as matou em Dumbey. Enquanto isso, a inundação carregava todos o que estavam na balsa com Gajara para Dulugun.

“Finalmente, as enchentes guiaram Gajara para esta direção. Ele enviou alguns pássaros do barco, primeiro o cuco. Este achou terra e não voltou mais para ele. Gradualmente as águas foram baixando. Mais tarde, os outros pássaros retornaram a Gajara, que os enviou novamente no dia seguinte. As terras já estacam secando e as criaturas vivas acharam comida e um lar. Eles mataram o canguru depois de desembarcarem; a esposa de Gajara, Galgalbiri, colocou-o no forno de terra e o cozinhou com outros alimentos. A fumaça subiu lentamente até atingir o céu. Ngadja, o Ser Supremo, pôde sentir o cheiro da fumaça da fêmea do canguru enquanto era cozida e ficou satisfeito.

“Ngadja, o Ser Supremo, colocou um arco-íris no céu para afastar as núvens de chuva. O arco-íris nos protege para que as chuvas não aumentem demais. Nosso povo entende o significado disso. Quando o vemos, pensamos: “Não haverá catástrofe”.10


Histórias do dilúvio ao redor do mundo

Mountain High MapsFlood

O Dictionary of Folklore, Mythology and Legend [Dicionário do Folclore, Mitologia e Lendas], de Funk e Wagnall, 1950, que indica no sub-título “Dilúvio ou Inundação”, diz: “um cataclisma mundial no qual a Terra foi inundada ou submersa em água: um conceito achado em quase todas as mitologias do mundo. As exceções são Egito e Japão…” [mas veja o mito egípcio mencionado acima (Ref. 7)]. Ele continua descrevendo “o esqueleto da história comum de dilúvio” da seguinte maneira: “ Os deuses (ou um deus) decidem enviar um dilúvio sobre o mundo, geralmente como punição por algum ato, um tabu quebrado, a morte de um animal, etc. (em um mito dos Tsimshian, o dilúvio vem porque as pessoas maltrataram uma truta), mas às vezes sem motivo algum. Certos humanos são avisados, ou o dilúvio vem sem aviso. Se avisados, as pessoas constroem algum tipo de embarcação (balsa, arca, navio, canoa grande), ou encontram outros meios de refúgio (escalando uma montanha ou uma árvore, uma árvore em crescimento, uma ilha flutuante, uma cabaça ou casca de coco, às costas de uma tartaruga, uma toca de caranguejo, etc.). Às vezes, eles também guardam certas coisas essenciais para a sobrevivência, como comida e, raramente, animais domésticos. O dilúvio vem (chuva, ondas enormes, um reservatório quebrado ou aberto, a barriga furada de um monstro, etc.). Aves ou roedores muitas vezes são enviados para olhar lá fora, mas isso não é universal. Quando o dilúvio acaba, os sobreviventes encontram-se em uma montanha ou uma ilha, às vezes oferecendo um sacrifício (isso também não é universal), e então repovoam a Terra, recriam os animais, etc, por algum meio miraculoso.”11

Se não houvesse nenhuma distribuição quase-universal dos relatos de um mundo destruído, os céticos não hesitariam em atacar a credibilidade bíblica com base nisso, questionando como a memória de tal acontecimento gigantesco fora esquecida em tantas culturas diferentes.

O dicionário citado aqui parece sentir a necessidade de tranquilizar seus leitores com “o próprio fato [de que um dilúvio global] não tem espaço na história geológica da Terra…” Mas argumentar contra um dilúvio global por causa da “história geológica” de “longas eras” da Terra só tem sentido se essa história geológica de longas eras for uma leitura verdadeira das rochas, leitura esta que só é verdadeira se não houve um dilúvio global. Isto é uma falácia lógica conhecida como “petição de princípio” – assumir como verdadeiro o que você está tentando provar.12 A memória cultural de um dilúvio global, obviamente alterada por ser contada e recontada há séculos, é uma evidência geral poderosa, consistente com os relatos de Gênesis. Essas histórias são uma uma lembrança excitante do modo como a história real da Bíblia se liga ao mundo real de nossos dias.

Referências

  1. Frazer, J.G., Folklore in the Old Testaments: Studies in Comparative Religon, Legend and Law (Edição resumida), Avenel Books, New York, NY, EUA, p. 107, 1988. Retornar
  2. Sanders, N.K., The Epic of Gilgamesh, Penguin Classics, Londres, UK, pp. 108-113, 1972. Retornar
  3. Morrison, W.B., Ancient Choctaw Legend of the Great Flood, <www.isd.net/mboucher/choctaw/flood1.htm>, Acesso em 8 setembro 2000. Retornar
  4. Reed, A.W., ‘The Great Flood’, in Aboriginal Fables And Legendary Tales, Reed Books, Sydney, Australia, pp. 55-56, 1965. Retornar
  5. Berlitz, C., The Lost Ship of Noah, W.H. Allen, Londres, UK, p. 126, 1987. Retornar
  6. Ref. 1, p. 82. Retornar.
  7. Mercatante, A.S., Encyclopedia of World Mythology and Legend, Child & Associates Publishing, NSW, Austrália, p. 613, 1988. Retornar
  8. Ref. 1, pp. 105-106. Retornar.
  9. The Larousse Encyclopedia of Mythology, Chancellor Press, Londres, UK, pp. 275-277, 1996. Retornar
  10. Veja o texto integral em Coates, H., The Flood, Creation 4(3):9-12, 1981. Retornar
  11. Funk & Wagnalls, Standard Dictionary of Folklore, Mythology and Legend, 1950. Retornar
  12. Em 1795, antes de examinar as evidências, Hutton, “o pai da geologia moderna”, proclamou que “a história do passado em nosso planeta deve ser explicada pelo que podemos ver ocorrendo agora … Nenhuma força que não seja natural deve ser empregada ao planeta, e nenhuma ação admitida exceto àquelas que conhecemos os princípios” (ênfase nossa). Isso automaticamente exclui o dilúvio global que a Bíblia registra. Hutton, J., Theory of the Earth with Proof and Illustrations; citado em Holmes, A., Principles of Physical Geology, 2. edição, pp. 43-44, 1965. Retornar

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