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Gênesis: a Semente de Toda Doutrina Cristã

Photo sxc.hu Bible genesis

por
tradutor Rafael Salazar

Data de Autoria: 26/04/2007

Tudo na Bíblia está inseparavelmente ligado a seu primeiro livro, Gênesis. Isso porque Gênesis nos dá informação sobre a origem e a explicação inicial de todas as principais doutrinas bíblicas.

Obviamente, nemtudo o que Deus, ao longo de 66 livros, durante 15 séculos, nos contou, está contido no primeiro livro da Bíblia. Existe um progresso de doutrinas ao longo da Bíblia. Do primeiro verso de Gênesis ao último versículo de Apocalipse, nós aprendemos mais sobre Deus, nós mesmos, o pecado, redenção, etc., a medida que concluímos cada um deles.1,2 Todas as principais doutrinas da Bíblia são como rios que se tornam mais profundos e mais largos a medida que fluem da fonte de água inicial de Gênesis.

Nós vamos examinar as principais doutrinas cristãs e sua conexão com Gênesis.

1. Acerca de Deus (teologia)

Gênesis nos diz sobre Deus, não somente comoCriador, como visto no capítulo 1, mas também como Aquele que tem um plano e um propósito para a humanidade, isto é, para nós. Esse plano e propósito envolve nosso viver em um relacionamento de obediência a Deus (assim como de confiança e de amor a Ele). Portanto, Deus é visto como Legislador em Seu mandamento para que Adão não comesse da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Jardim do Éden(Gênesis 2:17) . Em seguida, Deus é visto comoJuiz em consequência da desobediência da Adão (Gênesis 3), assim como em Seu julgamento no Dilúvio, em Babel, e em Sodoma e Gomorra (Gênesis capítulos 6-9, 11, 19). Deus também é visto comoSalvador, o que foi profetizado em Gênesis 3:15 e depois em Sua atitude de salvar Noé e sua família do julgamento do Dilúvio, e salvar Ló e suas filhas do julgamento de Sodoma (Gênesis 18, 19).

Como o Criador de todas as coisas, Deus tem o direito absoluto de comandar sobre todas elas, e Ele exercita essa autoridade no mundo – demonstrando Sua soberania. Isso é visto em Gênesis em quatro eventos especiais: a Criação, a Queda, o Dilúvio, e Babel. É também observado na escolha de Deus, no chamado e direção de quatro pessoas especiais: Abraão, Isaque, Jacó, e José.

A Trindade pode ser vista em Gênesis.3 A palavra hebraica para Deus,Elohim, em Gênesis capítulo 1 está no plural.4 Em Gênesis 1:26, Deus diz, “Façamos o homem à nossa imagem…”. O Espírito de Deus é mencionado que “se movia sobre as águas” em Gênesis 1:2. Cristo é mencionado profeticamente como o ‘descendente da mulher’ em Gênesis 3:15.5 Esta passagem também profetiza a concepção virginal de Cristo – por isso Ele é a semente damulher, em contraste com o uso comum do padrão bíblico de listarsomente os pais em genealogias. Adão, a Arca, Melquisedeque, Isaque, e José, são todos comumente considerados como ‘tipos de Cristo’.6, 7

Em Gênesis capítulos 1 e 2, nós também vemos duas coisas muito importantes sobre Deus – atributos que ateus tentaram demolir com argumentos ilegítimos. A primeira é a onisciência/onipotência de Deus em que tudo o que Deus criou, Ele acertou já na primeira vez. Contrariamente à queixa de Carl Sagan de que Deus é um “fabricante descuidado”8, em tudo o que Deus criou, não houveram experiências, não houve tentativa e erro, não houve “Ooops”! A segunda coisa é que tudo o que Deus criou era “muito bom” (Gênesis 1:31). Contrário ao criticismo de David Attenborough, quanto a um verme parasita que vive nos globos oculares de crianças na África,9 (VejaPorque Sir David Attenborough Não Dá Crédito a Deus?) tudo o que Deus criou demonstrou a bondade de Deus. No mundo, antes da entrada do pecado, não havia morte, não havia sofrimento, doenças, o carnivorismo, não haviam danos, e não havia falta de alguma coisa boa.

2. Acerca de Nós – Humanidade (antropologia)

O primeiro homem, Adão, e a primeira mulher, Eva, aparecem em Gênesis como criações especiais de Deus – Adão feito a partir do pó da terra e Eva a partir da costela de Adão – ambos feitos por Deus à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27). Portanto, nós não somos animais evoluídos, ou meras aglomerações químicas, mas sim, seres com uma natureza espiritual, conscientes de Deus.

Eva foi criada para ser uma “auxiliadora” para Adão (Gênesis 2:20-22). Daí se segue a doutrina do casamento(Gênesis 2:24, confirmada por Jesus em Mateus 19:4-6), como sendo a união de um homem e uma mulher pela vida-não da união de dois homens ou duas mulheres, ou outra coisa. Também fica claro que toda a raça humana é descendente de um único par (Gênesis 3:20).

3. Acerca do pecado (hamartiologia)

Com o primeiro homem veio o primeiro pecado – visto em Gênesis como violação da lei de Deus (Gênesis 6:11), e como depravação tanto imputada quanto adquirida para toda a raça humana (com referência a Gênesis 4:8; 6:5). Quando Deus criou Adão e Eva, eles possuíam a capacidade de não pecar, assim como a de pecar. Quando eles escolheram rejeitar a autoridade de Deus sobre eles, tanto eles quanto a humanidade perderam a capacidade de não pecar; ao invés disso nós temos uma natureza pecaminosa inata.10 O primeiro pecado trouxe a primeiraculpa (Gênesis 3:8).

O primeiro pecado também trouxe o primeiro julgamento (Gênesis 3:14-19). O julgamento foi o de que houvesse inimizade entre a descendência de Satanás (incrédulos e possivelmente demônios) e a descendência da mulher (crentes, mas especificamente Cristo). Mulheres e homens deveriam sofrer, cada um em seu respectivo papel. Toda a humanidade estaria agora sujeita à morte.

4. Acerca da salvação (soteriologia)

A Bíblia ensina que Deus em Sua misericórdia e graça perdoa o nosso pecado, mas somente quando a pena é paga por um sacrifício substitutivo. Portanto, Deus tem providenciado salvação da punição eterna; da culpa, do poder, e principalmente da presença do pecado, por meio da pessoa e da obra do Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo. A atuação e o cumprimento dessa salvação através da morte, sepultamento, e ressurreição de Jesus não é observada até os Evangelhos; no entanto, a predição e a promessa do que estava por vir é vista pela primeira vez na promessa de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente (Gênesis 3:15).

A natureza substitutiva do sacrifício é vista pela primeira vez em Gênesis 22:1-13, em que Abraão é orientado a oferecer um carneiro como oferta queimada ao invés de seu filho Isaque.

Além disso, essa Semente é um descendente do primeiro homem, Adão (Lucas 3:38), e é chamado “o último Adão” (1 Coríntios 15:45). Isso é essencial, porque Isaías disse sobre esse Salvador que viria como, literalmente, o “Parente-Resgatador”, isto é, um que é parente de sangue daqueles a quem redime (Isaías 59:20, que usa a mesma palavra hebraica,gôel,que foi usada para descrever Boaz em relação a Naomi em Rute 2:20, 3:1-4:17). O Livro de Hebreus também explica como Jesus tomou sobre Si a natureza de um homem para salvar a humanidade, mas não os anjos (Heb. 2:11-18). Esse conceito vital de parente-resgatador é originado em Gênesis.

O início da nação judaica dentro da qual o Messias iria nascer, morrer e ressuscitar dentre os mortos é vista no chamado de Abraão (Gênesis 12:1-3; 17:19; 49:10).

5. Acerca dos anjos (angelologia)

O momento exato em que Deus criou os anjos não é mencionado na Bíblia, mas foi provavelmente antes dEle criar a Terra (Gênesis 1:1), ou pelo menos antes da terra seca aparecer (Gênesis 1:9), porque de acordo com Jó 38:4-7, quando Deus assentou as fundações da terra “os filhos de Deus jubilavam”11

– veja tambémOnde os Anjos se Encaixam?

Como Deus não é o autor do mal, e porque Ele pronunciou toda a Sua criação como muito boa no fim do sexto dia da semana da criação (Gen. 1:31), nós tomamos que o ser que agora nós chamamos de Satanás não havia caído em pecado, ainda.

Em Gênesis 3:1-14, nós lemos a primeira referência a esse ser que difama Deus e que tentou Eva a se rebelar contra Deus, e cujo último destino é predito por Deus (Gênesis 3:15). Em outros lugares na Bíblia, aprendemos que o nome dessa criatura é Satanás, que significa “difamador” (cf. Apocalipse 12:9; 20:2).12

A primeira referência a anjos bons é em Gênesis 3:24, em que querubins são postos por Deus, o Jardim do Éden para guardar o caminho para a árvore da vida.

6. Acerca da Igreja (eclesiologia)

A doutrina da Igreja é revelada no Novo Testamento. É uma das coisas que o Apóstolo Paulo chama de mistério, significando a verdade previamente não-revelada, agora divulgada. No entanto o próprio fato de que Paulo chama a Igreja de a Noiva de Cristo (Ef. 5:22-32) nos traz de volta ao primeiro relacionamento entre marido e mulher, ordenado por Deus, em Gênesis 2:24.

Também, a Igreja é certamente antevista em Gênesis; com Abraão sendo chamado para formar (através de seus descendentes) a nação de Israel, a qual Deus abençoou e também deveria ser uma bênção para todos os povos da terra (Gênesis 12:1-3).13

Esta bênção culminou em um singular descendente de Abraão, o próprio Jesus (Gálatas 3:16), quem também seria a Fonte de bênção para todas as nações (Gl. 3:14). Paulo nos diz, “E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa. ” (Gálatas 3:29). Esses que pertencem a Cristo são Sua verdadeira Igreja.

7. Acerca das Últimos coisas (escatologia)

Os principais aspectos do que é chamado de “as últimas coisas” são a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo, a(s) futura(s) ressurreição(ões) dos mortos, o julgamento de toda a humanidade, e os estados finais dos redimidos e dos ímpios.14

Por sua própria natureza (sendo as últimas coisas) nós não esperaríamos que essas questões fossem detalhadas em Gênesis. No entanto, elas são o desenrolar do plano e propósito de Deus para a humanidade, a terra, e o universo. Ele se propôs prover uma eterna Noiva (a Igreja) para Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, a partir da humanidade redimida, e Ele colocou Seu plano em ação quando Ele criou os céus e a terra, e os seres humanos, como registrados em Gênesis capítulo 1.

O que vemos em Gênesis é Deus iniciando o processo que irá finalmente trazer à tona esse propósito – um plano que estava na mente de Deus desde antes da fundação do mundo (Efésios 1:4; 1 Pedro 1:20).

Também, enquanto as “últimas coisas” não são detalhadas em Gênesis, os lugares aonde elassão detalhadas não fariam sentido sem este livro. No estado eterno, novamente não haverá morte ou sofrimento de qualquer tipo, como Apocalipse 21:4 diz – e a razão é que lá não haverá maldição (Apocalipse 22:3). Haverá também um retorno a um estado parecido com o do Éden com o retorno da Árvore da Vida (v.2) e a um estado como os dias 1-3 da Semana da Criação onde Deus providenciou luz sem sol e lua (v. 5, cf. Gênesis 1:16-19).

Conclusão

Todas as principais doutrinas cristãs têm sua fonte, direta ou indiretamente, no livro de Gênesis. Pregadores, missionários e teólogos que falham em perceber isso tem perdido a fundação para o que eles ensinam. Por outro lado, aqueles que percebem isso tem a base apropriada, dada por Deus, para todo o seu testemunho, pregação, aconselhamento, e ensino cristãos.

Referências e Notas

  1. Ver Grigg, R., Unfolding the plan (Desvendando o Plano), Creation 20(3):22–24, 1998. Voltar ao texto.
  2. Note que quando José recebeu a proposta da mulher de Potifar (Gênesis 39:7–9), sua resposta foi, “Como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra meu Deus?”, ainda que o mandamento contra o adultério não havia sido dado explicitamente por escrito até o tempo de Moisés (Êxodo 20:14), vários séculos depois. Nós concluímos que Deus pôs o conhecimento do certo e do errado, i.e. a Lei de Deus, na consciência do homem, quando Ele o fez à Sua imagem e semelhança, como registrado emGênesis 1:26–27. Isso foi provavelmente derivado do conhecimento de que o casamento foi algo que Deus havia feito entre um homem e uma mulher (Gênesis 1:27,2:24), portanto o homem não deve quebra-lo (cf. Mateus 19:3–6). Ver também Romanos 2:15. Voltar ao texto.
  3. Ver Grigg, R., Who really is the God of Genesis? (Quem é realmente o Deus de Gênesis?)Creation 27(3):37–39, 2005. Voltar ao texto.
  4. Embora isso não ensine explicitamente a Trindade, certamente permite seu ensino, e pode ser visto como consistente com o posterior ensino neo-testamentário acerca da Trindade. Voltar ao texto.
  5. Ver Sarfati, J., Jesus in Genesis: The Messianic Prophesies, DVD, Creation Ministries International. Voltar ao texto.
  6. É claro que, os leitores do AT não saberiam disso. E embora alguns desses comumente considerados tipos possuam sanção do NT, outros não. Voltar ao texto.
  7. Essa seção da teologia que lida com o caráter e a Pessoa de Jesus Cristo é chamadaCristologia; essa seção da teologia que lida com o Espírito Santo é chamada pneumatologia. Voltar ao texto.
  8. “Se Deus é onipotente e onisciente, porque ele não começou o universo para que acabasse do jeito que Ele quiser? Por que Ele está constantemente reparando e reclamando? Não, existe uma coisa que Bíblia deixa claro: o Deus bíblico é um fabricante descuidado. Ele não é bom em projetos, Ele não é bom em execução. Ele estaria fora do Mercado se houvesse competição.” Carl Sagan, Contact, Pocket Books (Simon & Schuster, Inc.), New York, 1985. Voltar ao texto.
  9. David Attenborough como citado por Buchanan, M, Wild, Wild Life, Sydney Morning Herald, The Guide, p. 6, Março 24, 2003. Voltar ao texto.
  10. Isso não exclui a doutrina da santificação, ou o poder do cristão de levar uma vida santa. Mas veja também 1 João 1:8–10. Voltar ao texto.
  11. A expressão hebraica bene elohim traduzida como “filhos de Deus” também significa “anjos” e é traduzida assim na NVI; cf. ao angelosda Septuaginta. A palavra “anjo” em ambos, hebraico e grego, significa “mensageiro”; o contexto mostra quando o significa mensageiros humanos ou sobrehumanos. Hebreus 1:5 se refere ao ao Filho de Deus (singular), i.e. o Senhor Jesus Cristo, então este verso não invalida a aplicação em Jó 38:4–7 a anjos (plural). Voltar ao texto.
  12. Ver Grigg, R., Who was the serpent? (Quem era a serpent?)Creation 13(4):36–38, 1991. Voltar ao texto.
  13. Ver também Sarfati, J., Genesis correctly predicts Y-Chromosome pattern: Jews and Arabs shown to be descendants of one man!Or: A brief history of the Jews(Gênesis corretamente prediz o padrão do cromossomo Y: Judeus e árabes evidenciados como descendentes de um homem! Ou: A Breve História dos Judeus), 16 Maio 2000. Voltar ao texto.
  14. Ver Grigg, R., The Future: Some issues for ‘long-age’ Christians(O Futuro: alguns problemas para cristãos de “terra velha”), Creation 25(4):50–51, 2003. Voltar ao texto.